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domingo, 3 de fevereiro de 2008

Mais sobre Galicia Monolingue

Os de Galicia Monolingue argumentam que os professores do sistema educativo galego têm direito a não usarem o galego nas suas aulas, quer dizer, a ensinarem em espanhol, porque a Constituição garante o direito de todos os cidadãos a empregarem qualquer uma das línguas oficiais. Eu concordo nisso respeito da cidadania em geral (como para não concordar!), mas não no que respeita aos trabalhadores da Administração, sejam docentes, administrativos ou juízes. Os que temos a sorte ou o azar de termos que trabalhar por conta alheia, devemos assumir uma série de compromissos quando acedemos a um posto de trabalho concreto, variáveis segundo o posto e o patrão. Os funcionários (incluídos os docentes) são também trabalhadores dum patrão particular, a Administração, que, como qualquer outro patrão, pode impor (não quaisquer, mas sim) certas condições aos seus empregados. Neste caso as condições impostas são necessárias para que o resto dos cidadãos, os administrados, possamos usufruir os nossos direitos linguísticos (nomeadamente podermos usar o galego, que não inclui apenas a possibilidade de expressar-nos nessa língua mas também de sermos atendidos nela) quando somos administrados. Por isso os funcionários não são cidadãos correntes. Nestes momentos, para pôr um símil, enquanto a lei anti-tabaco não se endureza e se equipare a leis como as recentemente aprovadas em França ou Portugal, há trabalhadores de hostelaria que trabalham em estabelecimentos em que têm de respirar fume de tabaco, apesar de que a Constituição diz bem clarinho que todos os cidadãos temos direito à saúde. A mim no meu trabalho obrigam-me a levar um colete com as cores e o emblema da empresa: a Constituição penso que não diz nada sobre indumentária mas eu poderia arguir que se está vulnerando a minha liberdade individual de vestir-me como queira. Na verdade ninguém me obriga a ter esse trabalho, aceito-o livremente, com todo o que esse trabalho implica, vantagens e inconvenientes. Por que os funcionários haviam de ser diferentes?

Para mim os funcionários não são diferentes, devem aceitar as condições que, conforme a lei, comporte o seu trabalho. No caso da língua, a negação dum funcionário a utilizar uma das duas línguas oficiais é mui grave, já que, o discriminado não será ele, mas sim o serão muitos administrados. A Lei diz que os cidadãos galegos temos direito à que a Administração se dirija a nós na nossa língua: como podemos fazer efectivo esse direito se um funcionário se nega a usar o galego connosco? É evidente que aqui há um solapamento de direitos e de interesses que há que resolver dalguma maneira. Para mim está claro que o direito dos administrados implica uma obriga no administrador. E para legitimar que o galego seja a língua preferente da Administração galega só basta com citar a própria Constituição espanhola, que diz que o galego deverá ser "objecto de especial respeito e protecção" (e recalco "especial", que se refere a medidas de promoção das que não goza o espanhol).

Não todos somos iguais ante a Lei, nem podemos sê-lo. A Lei, na minha opinião, deve ser igual para aquelas pessoas que são iguais, mas não para o resto. Por exemplo, ainda que o delito seja o mesmo, as penas para um menor não são iguais que para um maior de idade. As circunstâncias de cada indivíduo condicionam o seu submetimento à Lei. Os funcionários, quando estão a trabalhar, são serventes do resto de cidadãos e por isso, em caso de solapamento, os direitos do resto da cidadania devem estar por cima de certos direitos seus, que devem ficar suspendidos, e servir ao cidadão é a sua obriga e portanto a língua a utilizar pode perfeitamente estar fixada nas condições desse serviço. Que passaria se se lhe exige ao trabalhador dum posto de turismo que fale inglês com os turistas que querem informação (e que possua ou adquira as competências para fazê-lo)? Seria razoável que o trabalhador que ocupe esse posto denuncie que se vulnera o seu direito constitucional a utilizar a língua espanhola simplesmente porque está em território espanhol? Pergunto-me se também protestariam se fossem jornalistas de Vieiros, de Galicia-Hoxe ou da TVG porque no seu trabalho têm de usar o galego. Se trabalhassem num liceu francês ou num colégio alemão protestariam por terem que usar o francês ou o alemão nas suas aulas? (não são perguntas retóricas). Outro caso, imaginemos uma pessoa que trabalhe numa escola, pública ou concertada, em que se implemente o modelo trilingue, como já se está a fazer em Baleares, com espanhol, língua própria do país e inglês, e que se fixasse (seja polo governo ou polo centro) que a disciplina que essa pessoa ministra (entre outras) tem de ser veiculada em inglês: essa pessoa teria que falar em inglês nas suas aulas, ainda que ensine matemáticas ou ciência ou o que for, e ademais teria que formar-se em inglês se o seu nível não fosse bom o suficiente. Nesse suposto, também denunciaria a conculcação dos seus direitos constitucionais por não poder dar as suas aulas em espanhol? Eu suponho que não, e de facto acho que terão muitos menos problemas (ideológicos, claro é) para darem aulas em inglês dos que terão em galego. Os funcionários (docentes incluídos) são cidadãos, certo, mas quando estão no seu posto de trabalho não exercem apenas de cidadãos, exercem de trabalhadores cujo trabalho é servir os outros cidadãos. Os de Tanga querem resolver esse conflito de direitos e interesses mediante a fórmula "yo y mi culo por encima de todo".

Para os de Tanga e Galicia Monolingue para trabalhar em galego há que ser galego-falante, e para ser galego-falante há que ser nacionalista radical e racista. Em Vieiros não o sei, mas na RTVG quanto pessoal não haverá que está aí porque a concorrência no mercado como profissionais da comunicação em espanhol é muito maior! Quantos futuros jornalistas galegos não terão escolhido fazer a carreira por galego e não por espanhol pela simples razão de que a RTVG é um empregador mais que provável se estão formados nessa língua e muito mais acessível que outros como a TVE! A mim parece-me mais bem que as pessoas que escolheram fazer a carreira em Santiago por galego não o fizeram por terem uma ideologia nacionalista rância e sectária, mas simplesmente pensando no que seria melhor para o seu futuro profissional. É mais, parece que, ante tal perspectiva, talvez seja por ter uma determinada ideologia (como a que têm em Tanga) que uma pessoa rejeite fazer a carreira de jornalismo por galego (a não ser que tenha pensado ir trabalhar noutro país). Ou seja, como hipotético jornalista que poderia ter sido qualquer das pessoas que integram Tanga e GB, uma de duas: a) teria rejeitado fazer a carreira por galego, por razões que eu não saberia explicar mas que iriam contra a lógica dessa profissão na Galiza, e em cujo caso provavelmente não teria acesso a um posto de trabalho na RTVG ou b) teria, como todo filho de vizinho, pensado no seu porvir e escolhido o que parecia melhor para o seu devir profissional. E nesse segundo caso, não é improvável que tivesse arranjado trabalho na RTVG. Parece-me uma maneira plausível de explicar por que uma pessoa trabalha num meio de expressão em galego sem apelar à qualquer ideologia expressa. O que quero dizer é que em muitos casos a língua de trabalho e o mercado no que uma pessoa decide competir tem muito pouco a ver com a sua ideologia. É sabido: primeiro o bandulho, depois o orgulho. Ou era ao revés? De facto, estou convencido de que muitas pessoas das que trabalham na RTVG não são especialmente galeguistas nem sensíveis à questão da língua. Era muito gráfico aquele quadrinho do Xaquín Marín em que o realizador dum programa de tv da TVG dizia "Atentos, ahora hablad en gallego que empezamos a grabar" ou algo assim. Em qualquer caso, pergunto-me se os de Tanga iriam tão longe como afirmar que as pessoas que trabalham pondo a voz (e talvez também a cara) na RTVG têm direito a protestar por ser vulnerado o seu direito "constitucional" a se expressarem em espanhol.

Enquanto ao decreto de galeguização do ensino, que é o que realmente critica Tanga (já que está formada por "padres e profesores"), pois o decreto não carece em absoluto de legitimidade porque o único que faz é aplicar o que já diz a Lei de Normalização Linguística, aprovada por todos os grupos no Parlamento galego. O que dizem os de Tanga é tanto como afirmar que os grupos políticos galegos não representam a cidadania.

A língua é um elemento de discriminação flagrante e muitas pessoas continuarão a pensar que não todos os espanhóis somos iguais enquanto um madrileno (por pôr um caso) possa ter acesso a TODO na sua língua mas um galego não. Poder-se-á pensar ou não que essa situação de desigualdade deve ser mudada, mas não se poderá negar essa situação. Também poder-se-á concordar ou não com que é preciso fazer algo (e.g. mudanças radicais) para frear a redução nas últimas décadas do número de falantes de galego, mas não se poderá negar essa redução. A dramática redução de galego-falantes não é espontânea nem se deve a factores intrínsecos da língua ou dos falantes, as pessoas não deixam de falar a sua língua porque sim ou porque essa língua tenha poucos falantes: na Letónia e na Eslovénia há menos habitantes que na Galiza e nem por isso os letões e os eslovenos deixam de falar as suas respectivas línguas. As causas de que um galego-falante lhe fale espanhol aos seus filhos (que é basicamente onde radica o problema) tem a ver com a desigualdade, agrávio comparativo, discriminação ou como se lhe prefira chamar que existe entre espanhol e galego. E dada essa situação parez claro que são necessárias, como pouco, políticas como a plasmada no devandito decreto. Criticá-las com a escusa de que a lei admite a possibilidade teórica de que se impartam em galego o 100% das matérias (o qual sempre seria porque assim o quer o centro: profes, AMPAS, etc.), parez-me, no mínimo, uma hipocrisia. O que eles propõem, o laissez-faire, é um ponto de vista legítimo, mas suponho que não pensariam assim se a língua minorada/em perigo de desaparição fosse a deles.

É certo que há que ter olho para que as vítimas não se convertam em verdugos, é verdade que adoita passar, poderia passar também aqui, mas de momento, se a minha perspectiva das coisas tiver um mínimo de objectividade, o certo é que, no grande geral, as vítimas não foram nunca, nem são agora, os espanhol-falantes. Insisto, no geral. Conheço uns poucos casos em que sim o são, mas conheço infinitamente muitos mais em que são os verdugos. Os espanhol-falantes que se creem vítimas unicamente o são da sua própria (e talvez voluntária) falta de compreensão do mundo em que vivem e das, digamos, razões ideológicas de fundo que sustentam a sua ideia da Galiza, do galego e de Espanha como estado em que o espanhol deve estar acima das outras línguas. Têm direito a ter essa ideia, mas afortunadamente essa ideia têm-na cada vez menos pessoas. O engraçado é que, por outro lado, os de Tanga pretende fazer-nos crer que eles não têm ideologia e que se regem unicamente pela razão, enquanto os nacionalistas é que "querem impor a sua ideologia". Se eles pensam que não há direito a que certos indivíduos tenham por lei que expressar-se em galego no seu trabalho é precisamente pela sua ideologia. As leis, assim mesmo, estão elaboradas por pessoas que respondem a um programa e plasmam uma ideologia. O conflito pois, é de raiz legal mas não deixa de ser ideológico também. Os nacionalistas, na verdade, o que querem não é impor a sua ideologia, valha-me Deus!, mas simplesmente aplicar a lei. A única razão que vale nesta questão é a razão da maioria e o único que se está a impor é a soberania popular, como deve ser: qualquer um tem direito à "pataleta", mas num sistema democrático, as coisas serão o que a maioria queiramos que sejam. E em qualquer situação de mudança, sempre há minorias insatisfeitas, é inevitável.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Fachas, demagogia e incompatibilidades

Acabo de ler o artigo (ou carta ao director) titulado "Un giro de timón", publicado em ABC em novembro do ano passado e escrito pela presidenta de Galicia Monolingue (permita-se-me o pequeno escárnio, acho que merecido e legítimo, com o nome desta associação).

Permita-se-me, assim mesmo, por meio do destaque duma simples mas fulcral contradição, uma pequena crítica à perversa demagogia, por outro lado tão transparente, que pratica esta associação. Por um lado reclamam que o conhecimento do galego não seja requisito indispensável para aceder a um emprego público, quer dizer, para trabalhar na Administração (galega, entenda-se). Por outro lado, vêm a dizer, talvez como mostra de pretendida moderação, que o reconhecimento do galego como instrumento normal de comunicação entre a cidadania e a Administração (galega) em todos os âmbitos da vida oficial era e é um fim justo e desejável.

Se calhar há algum ponto que me escapa, mas eu não acabo de ver por nenhures como pode ser compatível o facto de uma pessoa (quem diz uma, diz muitas) poder aceder a um posto na Administração com o facto de eu ser administrado em galego, como é justo e desejável se assim eu o desejar, se se der a circunstância de que quem me administre seja essa pessoa que acedeu ao seu posto sem demonstrar que conhece (e talvez sem conhecer!) a língua em que é justo e desejável que a mim me atenda.

Fico por aqui...

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Se nom hai galego, nom hai contrato

E três anos depois, parece que as cousas começam a mudar e que as mudanças de maiorias no Parlamento tenhem efeitos na política da Xunta. Veja-se esta notícia de Vieiros: "Se non hai galego, non hai contrato". Parece-me umha das melhores notícias, no relativo á língua, no que vai de ano. Esse é o caminho.

O PP opujo-se à proposta porque di, segundo Vieiros, que hai que usar "o convencemento e nom a imposiçom". Dim-que hai que fazer reflexionar às empresas para que vejam que o galego também "é um negócio". É curioso que estes argumentos sustentem à perfeiçom o apoio à proposta, mas que o PP os use para justificar a sua oposiçom. Nom hai melhor maneira de "convencer" as empresas ou de fazer que elas "reflexionem" que pola via do negócio. O PP se calhar propunha enviar trípticos? Assi nos foi tantos anos!

Imposiçom? Nom a vejo por nengures. As operadoras som livres de fazerem o que lhes praza, ninguém lhes impóm nada. Mas o cliente também é livre de escolher conforme as suas preferências. Já veremos como se apressam todas a cumprir as condiçons por medo a que outra lhes passe por diante e consiga os contratos antes que elas. Em qualquer caso, sempre estamos às voltas com as mesmas merdas: nom à imposiçom por aqui, nom à imposiçom por alá. Como se as normas de trânsito fossem facultativas, ou a lei eleitoral, ou a lei de partidos, ou qualquer lei! Nom é lei sinónimo de imposiçom? Por mim todo bem enquanto seja a soberania popular, e nom os interesses empresariais, o que se imponha.

Estaria bem, para os efeitos de contraste, ver qual seria a posiçom do PP nas Cortes espanholas se Orange ou Vodafone só oferecessem os seus serviços em francês ou inglês (ou outras línguas, mas nom em espanhol) quando absorverom Amena ou Airtel, respectivamente. Custa-me crer, por muito laissez-faire que preconizem, que ficassem com os braços cruzados.

O PPdG revolve-me o estómago. Nom conheço piores pailáns, ainda que sejam "do birrete".

sexta-feira, 16 de março de 2007

Expresso a minha nom-conformidade!

Nom é que pretenda comparar ou equiparar a minha experiência à das pessoas que sofrem ou sofrerom discriminaçom ou violência por serem gais ou lesbianas ou outra cousa heterodoxa, mas penso que os dous tipos de experiências se devem ao mesmo tipo de pré-conceitos e som causadas pola mesma maneira de entender a masculinidade e a sexualidade ou o ser humano em geral. Ademais, por sorte, eu sempre gozei de liberdade na minha casa para fazer o que me apetecesse. Havia outros problemas, como a hora de chegar, ou a sobre-protecção, mas isso é farinha doutro saco. Lembro quando eu punha saias para ir a algum concerto, algumha vez levei algum grito de "maricom!" dalguém que se cruzou comigo. Parecia-me surprendente, mas acontecia.

Lembro quando cosia ponto de cruz em teia de panamá: um dia estava a ponto de entrar numha tenda para comprar um bastidor e uns fios, e topei-me com um colega, predicador da revoluçom anarquista. Quando me perguntou e lhe digem o que ía comprar e para que, a sua cara de flipe foi mui eloquente. É divertido ver como pessoas que manejam grandes ideias falham nos princípios mais básicos. Entom perguntou para que? Eu respondim, coser é mui relaxante. Ele dijo, para luitar contra o sistema capistalista opressor nom convém relaxar-se, ou algo assim. Eu respondim, daquela por que fumas tantos porros?, ou algo assim. Ficou de queixo caído... Esta é a mesma pessoa que um dia me viu com um livro que descrevia e comparava os sistemas jurídicos espanhol e británico, e me dijo que para que lia isso, que esse era o sistema que havia que destruir, ao que eu respondim que para destruir umha cousa primeiro tes que conhecê-la. Tampouco se soubo o que respondeu o velho...

Eu daquela nom sabia a que era devido, mas sim me parecia irónico que umha pessoa (agora falo em geral, nom de ninguém em particular) que di estar comprometida na construçom dum mundo melhor (por aglutinar dalgumha maneira companheiros de adolescência que se definiam como independentistas, anarquistas, comunistas, etc.) tivesse tam má hóstia e tanto empenho em ir-lhe dizendo à gente o que tem que fazer. E em Ferrol havia muita gente assi. Noutros lugares nom o sei, falo só do lugar em que eu crescim.

Voltando ao rego, nunca me importou escandalizar as pessoas, e mesmo me regozijo bastante sempre em provocar (sempre que nom me suponha nengum prejuízo grave a mim, claro, nem a elas). Parece-me que o simples feito de que alguém se poda escandalizar com um comportamento inóquo é umha boa justificaçom para provocar essa escandalizaçom. Mas acho que querer escandalizar ou provocar nom era a minha razom para fazer muitas cousas. A razom era simplesmente o desejo de provar cousas novas, sempre tentando que esse desejo, que todos podemos experimentar, nom se visse anulado por pré-conceitos irracionais do tipo "isso som cousas de mulheres". Sempre tentei questionar todo o que fago e o que nom fago, ainda que é evidente que é impossível (e também cansativo demais) submeter absolutamente todo a umha análise racional, e quantos mais anos temos mais difícil me resulta.

Diversofóbia

Esmendrelho-me quando alguém me di que vivemos num país moderno e civilizado. Por que, pergunto. Porque temos leis que reconhecem direitos e que acabam com discriminaçons históricas, respondem-me. Muito bem. Leis feitas por umha metade (grosso modo) da nossa classe política, é maravilhoso e um passo adiante importantíssimo para que este país e para que o mundo continuem mudando, mas que hai da outra metade, representante, em teoria, dumha metade da populaçom?

O principal partido da oposiçom, arroupado por diversos grupos, como algumhas associaçons cidadás e umha seita dogmática, dualista, machista, pretenciosa, intransigente e mui perigosa (e cada vez com menos seguidores, por sorte), continuam negando o reconhecimento às pessoas represalidas polo Franquismo, fazendo pressom para que o adoutrinamento religioso seja umha matéria escolar ao mesmo nível que as outras, desqualificando o matrimónio homosexual, entorpecendo o desenvolvimento das línguas que nom som o espanhol e das naçons que nom som ou nom querem ser a espanhola, etc., enfim, indo em contra de qualquer medida que favoreça a diversidade, a igualdade e a liberdade. Nem todo é mau, polo menos nom estam no poder e nom podem invadir países... é um consolo.

Lembro umha notícia na revista Lambda que dizia que as entidades católicas e conservadoras (eg. os bispos e o PP, quem senom) faziam pressom para que a nova matéria Educaçom para a Cidadania nom recolhesse a existência de famílias homosexuais, ou qualquer referência à "diversidade afectivosexual". Diria isso de "eles saberám o que fam" nas na verdade penso que nom o sabem. Tenhem medo e nem sequer sabem a quê. Uns predicam o amor, na teoria, e dim que deves amar o teu inimigo e o que único que conseguem é gerar ódio. E o PSOE fai o que pode, mas podia fazer muito mais. Penso que nom vamos por mal caminho, mas vamos a passo de boi.

Hoje lia em El País algo que as pessoas realistas já sabem que acontece, e que as pessoas "diferentes" experimentam em carne própria, mas que um nem sempre tem presente, porque nem sempre sai no diário e, quando um se fai adulto, passa a presenciá-lo com menos frequência ou com mais distância, polo menos no meu caso. Quando ainda nom és adulto, talvez nom tes a consciência e madurez suficientes para pensar que isso que passa nom teria que passar. E quando te fas adulto, esqueces ou pensas que já nom passa, que o mundo mudou, simplesmente porque já nom o ves, e porque a gente tende a confundir o reconhecimento jurídico de determinados feitos com o seu estatus real que tenhem na sociedade.

Acontece algo semelhante com o galego: meu pai, como exemplo de cidadao meio, pensa que já está todo feito porque já se ensina na escola, já se fala na tele e na rádio, já nom se persegue a quem o fala. Mas que segue a haver na consiciência das pessoas?

Em qualquer caso, igual convem nom queixar-se demais: sempre podíamos estar pior.

domingo, 11 de março de 2007

Imposiçom e bidireccionalidades

Que bonita a eloquência do senhor Gómez de Liaño quando di (as cursivas som minhas):

Recuérdese a Miguel de Unamuno cuando defendía con pasión que debíamos salvar, con «respeto y protección» -como rezaba la Constitución de 1931-, los idiomas de Rosalía y Maragall, pero que no se podía imponer un idioma a un español que no lo hubiese tenido como lengua materna, si no era el castellano, hablado por todos, usado por millones de hombres.
Às vezes vejo-me tentado de submeter discursos inteiros a umha análise de lógica de predicados de primeira ordem ;)

Nom sei o que quereria dizer Unamuno nem o que entenderá o senhor Gómez de Liaño, magistrado e advogado, mas o que eu (probe inhorante) entendo é que o castelhano é o único idioma que se pode impor a um espanhol que nom o tivo como língua materna. Lendo isso, nom parece surprendente que o espanhol seja a língua materna tanto de Liaño como de Unamuno. Suponho que na realidade onde pom "podia" deve-se ler "devia", mas na época de Unamuno (e hoje em certa medida também) é verdade que era o único que se podia impor, e de facto é o idioma que durante séculos se vem impondo aos bascos, galegos e cataláns que nom o tenhem como idioma materno.

E prossegue:
En España hay una Constitución lo suficientemente clara y sólida como para saber que el castellano es nuestra lengua común, que la lengua común de España es el español y éste la lengua común en todas las partes.
Tampouco parece surprendente que seja a "nossa" língua comum depois de que durante séculos os que sim a tenhem como língua materna no-la impugessem aos que nom. Claro, como eles som mais! Mas um momento de reflexom: realmente temos que ter umha língua comum? Está bem, nom digo que nom, mas considerando vantagens e inconvenientes (desde umha perspectiva histórica, e por histórica nom quero dizer 20 anos nim 100), pode resultar tam imcomprensível que haja quem nom queira? Tam ilegítima parece tal proposta? Como faram os belgas ou os suíços? Devem ter uns problemas enormes...

E prossegue:
El intento de sabotaje del pregón de Elvira Lindo, patrocinado por ERC y el acoso al deportista Samuel Eto o por querer hablar en castellano son dos nuevos excesos, propios de la predisposición de ánimo de esos independentistas radicales que pretenden, día sí, día también, dinamitar la convivencia y los pilares básicos de la nación española.
Se a convivência e os pilares básicos da naçom espanhola som que os que nom o temos como língua materna temos que deixar que nos imponham o espanhol sem que nos territórios que tenhem umha língua de seu podamos fazer o mesmo (como fai qualquer país soberano, por certo), pois tampouco é mui surprendente que haja "independentistas radicais" nem que queiram dinamitar essa "convivência".

Acontece que só a parte poderosa pode impor a sua língua. Mas quando hai um mínimo de democracia (por imperfeita que seja) o poder reparte-se entre quem o reclama e as partes menos poderosas passam a sê-lo mais e as que o eram mais passam a sê-lo menos, o que permite que os menos poderosos podam decidir até certo ponto quê se querem deixar impor e quê nom, e isso pode incomodar os que antes eram mais poderosos, o qual é lógico, porque quem tem poder nom gosta de perdê-lo (ainda que fosse ilegítimo), nem muito menos de ver que nom só já nom pode impor (tanto) o que antes sim podia senom que mesmo pode ser objecto da imposiçom inversa.

E respeito aos "sabotajes" e "acosos", nom tenho nada a dizer nem ninguém que defender, a nom ser que quando hai liberdade de opiniom e sensaçom de ser vítima dumha imposiçom, tende a haver desajustes. Ou como di ele, "excessos", mas muitas vezes tais excessos, longe de serem reais, som fabricados polos meios.

Ui, agora que reparo, que feio soa isso de dizer "língua de seu". Dizer "língua própria" tampouco soa melhor. Carai, nom porque nom o seja, senom porque dizer própria ou de seu parece como que implica que as outras (como o espanhol) nom som próprias, senom que vinherom de fora, como se nos invadissem os marcianos, ou que forom impostas, e implicar isso de "língua imposta" soa feio. Vou ter que procurar palavras novas para nom dinamitar nada da naçom espanhola.

sábado, 10 de março de 2007

Prostituimento

Há muitas coisas no mundo sobre as que não tenho opinião ou não tenho uma opinião definida. Com muitas delas, não me incomodo. Não tenho uma opinião definida e ponto, não me tira o sono. Não se pode saber de todo. Mas com algumas questões, sinto um rebulir por dentro que não me deixa ficar parado, não podo evitar necessitar ter uma opinião formada e fundamentada, porque sei que dessa opinião dependerá a minha acção cidadã, o meu voto e essa reacção em cadeia de agitação de consciências que não começa em mim e que não deveria acabar em mim. A prostituição é um desses temas.

Isto é uma das melhores coisas (a nível divulgativo) que levo lido sobre o tema, e na verdade penso que inclina muito a balança cara ao lado do abolicionismo no dilema abolição versus legalização. Está escrito por gente da, recente e felizmente descoberta por mim, Associação de homens pela igualdade de género. Combina duas coisas necessárias para produzir uma análise correcta: por um lado, dados numéricos e, por outro, uma interpretação desde uma perspectiva global, humana e de género, pondo bem em destaque os dois assuntos chave: a prostituição é um problema de género (quer dizer, inerente à violência do patriarcado), porque se trata dum mercado controlado por homens e cujos demandantes são também maioriamente homens. O outro problema é que afecta às mulheres mais pobres.

Quantas vezes não terei ouvido que não há que ser paternalista com as prostitutas porque são mulheres grandinhas para tomarem as suas próprias decisões sobre como se querem ganhar a vida, ou que a prostituição afecta tanto a homens como a mulheres porque também há homens prostitutos, ou que há prostitutas de luxo que não ganham nada mal a vida e que não são vítimas de nengum tipo de maltrato, ou que (dito da sua própria boca) as prostitutas (ou o seu corpo) não são nenguma mercadoria que se venda ou alugue senão que são trabalhadoras que proporcionam um serviço a um cliente, ou mesmo aberrações como que a prostituição cumpre uma função social porque assi se evitam muitas violações como produto da insatisfação sexual de certos homens.

Pois o artigo recolhe dados como que mais de 90% das pessoas (das quais a marioria são mulheres e crianças) que são introduzidas cada ano na União Europeia acabam sendo vítimas de exploração sexual, ou que mais de 90% das pessoas prostituídas são mulheres. Este artigo deixa bastante claro que nada tem a ver a prostituta que sai no debate de televisão defendendo melhoras nas condições "laborais" das prostitutas com a imensa maioria de mulheres que são vítimas da trata de pessoas e que não tenhem quase nenguma possiblidade de decidir o seu futuro. Uma das coisas mais interessantes é a comparação entre os resultados obtidos nos países que obtarão por um modelo legalicionista, como a Holanda, e os que optarão por um modelo abolicionista, como a Suécia.

Vale a pena lê-lo (isso e muito mais).

quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

Vagos y maleantes: aberrante

Quando me digam que nos países árabes nom hai democracia, que nom se respeitam os direitos humanos, etc., só tenho que lembrar atrocidades como esta, que passavam aqui hai tam só pouco mais de um quarto de século.

domingo, 17 de setembro de 2006

Letter to the director of NYTimes: Javier Marías and tobacco

In response to Mr. Marias' article published in your newspaper on January 22, 2006, I would like to clarify certain aspects of his personal stance. Readers are mature enough to take his article as nothing more than a personal opinion but I still feel committed to provide some brief comments to encourage a critical evaluation of his words.

Mr. Javier Marias manages well to portrait the Spanish government as a totalitarian neo-fascist bunch of paternalist busybodies. He succeeds quite well in playing with ideas as to construct a logically solid argument. And he should, he is a writer after all (one can easily see he's not a human rights promoter, not fully committed at least). The only problem is that his account is biased, terribly. He handles logic well, but not facts. His vision of reality seems to be based upon a childish wish to get away with anything he wants to do, whatever the outcome. Quite understandably, then, he doesn't give any figures of death rates due to consumption of or exposure to tobacco smoke (ie. about 50.000 deaths per year). Otherwise he would be fouling his own nest.

It's true that walking along polluted streets in a big town and similar things aren't good for our health, as is tobacco. But what Mr. Marias seem to be implying is that we shouldn't give a damn about any situation which is wrong, because there are many other situations which are much worse. I would be very supportive to policies which encourage using the bike to go to work or to somehow forcing, if that could be possible, the US to sign on to the Kyoto Protocol. But still I am a breathing human being, and up to now I have had to stand stinky, carcinogen smoke on virtually every place I've been to in Spain to have some leisure time, very often including areas where smoking was already forbidden. If Spaniards had been as civic as Mr. Marias holds, I'm sure the recently passed anti-smoking law wouldn't have been necessary, nor would there have been any social demand for it.


By the sight of things, Mr. Marias is not aware, or ignores, that, according to the WHO, the concentrations of toxicity in our lungs are much higher when we inhale tobacco smoke than because of atmospheric pollution. Not to mention that we usually don't sit or stand next to a car's exhaust pipe INDOORS -- that would be unbearable, indeed much more than smoke! Be it as it may, the fact is that smoking causes many thousand deaths a year, and car combustion does not. Its effect on the natural environment is, however, quite another topic.

Mr. Marias asserts that 'the government's argument that it is seeking to improve public health is hypocritical [because] the Spanish Treasury takes in colossal revenues, direct and indirect, thanks to this pernicious habit'. So, what does this mean? Should the Spanish government not tax tobacco in order not to be hypocritical? I don't get this 'implicit message': how come the Spanish government can be implicitly talking us into smoking more, whilst at the same time regulating tobacco consumption on the grounds that it damages our health and that nearly one thousand people die every year in Spain because of their exposure to second-hand smoke? It's been proven that higher taxes on tobacco discourages smoking, so taxing is perfectly consistent with the government's aim to improve public health. Besides, I honestly don't think any Spaniard, however patriot they are, smokes more out of a wish to help settle the national debt.

As usually happens with smokers, Mr. Marias is looking at reality from the angle that best suits his interests. I agree with him that 'people should be allowed to make decisions about their health as they see fit, even if that means undermining it'. What I can't subscribe is that they make decisions about other people's health, which is what happens when someone smokes in a pub or a bar or a disco or whatever public place. This smoking guy might be having a great time with his or her smoking fellows, but the waiters, the dancers, the bouncers and the people who work there in general do HAVE TO inhale their happy smoke. They don't have a choice -- unless they quit their job, that is.

So please Mr. Marias, when you see a Spaniard in a place where there are non-smokers too, do ask them kindly not to smoke and not to force the workers there to breath their smoke. You will see how civically they react.