sábado, 10 de março de 2007

Prostituimento

Há muitas coisas no mundo sobre as que não tenho opinião ou não tenho uma opinião definida. Com muitas delas, não me incomodo. Não tenho uma opinião definida e ponto, não me tira o sono. Não se pode saber de todo. Mas com algumas questões, sinto um rebulir por dentro que não me deixa ficar parado, não podo evitar necessitar ter uma opinião formada e fundamentada, porque sei que dessa opinião dependerá a minha acção cidadã, o meu voto e essa reacção em cadeia de agitação de consciências que não começa em mim e que não deveria acabar em mim. A prostituição é um desses temas.

Isto é uma das melhores coisas (a nível divulgativo) que levo lido sobre o tema, e na verdade penso que inclina muito a balança cara ao lado do abolicionismo no dilema abolição versus legalização. Está escrito por gente da, recente e felizmente descoberta por mim, Associação de homens pela igualdade de género. Combina duas coisas necessárias para produzir uma análise correcta: por um lado, dados numéricos e, por outro, uma interpretação desde uma perspectiva global, humana e de género, pondo bem em destaque os dois assuntos chave: a prostituição é um problema de género (quer dizer, inerente à violência do patriarcado), porque se trata dum mercado controlado por homens e cujos demandantes são também maioriamente homens. O outro problema é que afecta às mulheres mais pobres.

Quantas vezes não terei ouvido que não há que ser paternalista com as prostitutas porque são mulheres grandinhas para tomarem as suas próprias decisões sobre como se querem ganhar a vida, ou que a prostituição afecta tanto a homens como a mulheres porque também há homens prostitutos, ou que há prostitutas de luxo que não ganham nada mal a vida e que não são vítimas de nengum tipo de maltrato, ou que (dito da sua própria boca) as prostitutas (ou o seu corpo) não são nenguma mercadoria que se venda ou alugue senão que são trabalhadoras que proporcionam um serviço a um cliente, ou mesmo aberrações como que a prostituição cumpre uma função social porque assi se evitam muitas violações como produto da insatisfação sexual de certos homens.

Pois o artigo recolhe dados como que mais de 90% das pessoas (das quais a marioria são mulheres e crianças) que são introduzidas cada ano na União Europeia acabam sendo vítimas de exploração sexual, ou que mais de 90% das pessoas prostituídas são mulheres. Este artigo deixa bastante claro que nada tem a ver a prostituta que sai no debate de televisão defendendo melhoras nas condições "laborais" das prostitutas com a imensa maioria de mulheres que são vítimas da trata de pessoas e que não tenhem quase nenguma possiblidade de decidir o seu futuro. Uma das coisas mais interessantes é a comparação entre os resultados obtidos nos países que obtarão por um modelo legalicionista, como a Holanda, e os que optarão por um modelo abolicionista, como a Suécia.

Vale a pena lê-lo (isso e muito mais).

Sem comentários: